segunda-feira, 3 de janeiro de 2011


Soneto de Infidelidade
Milton Rosendo


A mais, amor não seria se não te amasse e não traísse
e traindo-te, a ti, retornasse ainda mais fiel e amante
e ainda mais certo de que amar é um descomedir-se...

A mais, se não te traísse, Amor, amando o que não amo,
burlando por amor a ti esse amor firme e constante,
que seria da fé de que perder-te é o que mais temo?

Bem mais de ti me ajunto quanto mais de ti me afasto
e se, em outros corpos, te busco numa vã entrega,
é para, ao fim de tudo, achar-te em minha busca cega
e a ti me entregar num amor mais delatado e casto...

Bem mais te pertenço em não pertencer-te e trair-te
numa torrente de amor que se afirma quando nega
ao que ama de maneira louca e vasta e sôfrega
e que só se dá aos poucos, a cada vão instante...


Fonte: ROSENDO, Milton. Os Moinhos. 1. ed. Maceió: EDUFAL, 2009.

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