quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011


Não! - João de Deus


Tenho-te muito amor,
E amas-me muito, creio:
Mas ouve-me, receio
Tomar-te desgraçada:
O homem, minha amada,
Não perde nada, goza;
Mas a mulher é rosa...
Sim, a mulher é flor!

Ora e a flor, vê tu
No que ela se resume...
Faltando-lhe o perfume,
Que é a essência dela,
A mais viçosa e bela
Vê-a a gente e... basta.
Sê sempre, sempre, casta!
Terás quanto possuo!

Terás, enquanto a mim
Me alumiar teu rosto,
Uma alma toda gosto,
Enlevo, riso, encanto!
Depois terás meu pranto
Nas praias solitárias...
Ondas tumultuárias
De lágrimas sem fim!

À noite, que o pesar
Me arrebatar de cada,
Irei na campa rasa
Que resguardar teus ossos,
Ah! recordando os nossos
Tão venturosos dias,
Fazer-te as cinzas frias
Ainda palpitar!

Mil beijos, doce bem,
Darei no pó sagrado,
Em que se houver tornado
Teu corpo tão galante!
Com pena, minha amante,
De não ter a morte
Caído a mim em sorte...
Caído em mim também!

Já exalando os ais
Na lúgubre morada
Te vejo a sombra amada
Sair da sepultura...
A tua imagem pura,
Fiel, mas ilusória...
Gravada na memória
Em traços tão leais!

Então, se ainda ali
Teus vaporosos braços
Me podem dar abraços
Como dão hoje em dia,
Peço-te, sombra fria,
No mais íntimo deles
Que a mim também me geles,
E fique ao pé de ti!

Mas ai! meu coração!
Tu porque assim te afliges,
E trémula diriges
A vista ao Céu piedoso?
O quadro é horroroso,
a cena triste e feia,
Basta encerrar a ideia
De uma separação...

Mas ouve, existe Deus;
Ora e se Deus existe,
Tão horroroso e triste
Que podes temer? Nada!
Desfruta descansada
O êxtase, o enleio
Em que eu já saboreio
O júbilo dos céus!

Deixa-me nesse olhar
Ver com a Lua assoma...
Sim, deixa no aroma,
Que a tua boca exala,
Ver como a rosa fala
Quando a aurora a inspira...
Ver como a flor suspira
Por ver o Sol raiar!

A morte para amor
É êxito sublime;
A morte para o crime
É que é amarga e feia:
A morte não receia
O verdadeiro amante!
Por ela a cada instante
Implora ela o Senhor.

É juntos, tu verás,
Que nós expiraremos!
Sim, juntos que os extremos
Olhares cambiando,
Iremos despegando
Do invólucro terreno
O espírito serreno
Como a eterna paz!

Vê, só porque supus
Chegado esse momento,
Já esse olhar mais lento,
As vistas mais serenas...
Bruxuleando apenas
Em lânguido desejo
Simpático lampejo
De uma inefável luz!

Há neste triste vale
De lágrimas a imagem
De dois nessa passagem
Para a eternidade:
A névoa, a ansiedade,
O júbilo que mata,
Dão uma ideia exacta
Do trânsito fatal.

Mas essa imagem, flor,
É tão fiel, tão viva
Que à sua luz activa
Se cresta a flor mimosa:
E nem o homem goza;
Se goza é um momento:
Depois... o desalento!
Depois... o desamor!

João de Deus, in 'Campo de Flores'



Roadhouse Blues– The Doors

(Puteiro Blues)


Yeah!

Mantenha seus olhos na estrada, suas mãos no volante
Mantenha seus olhos na estrada, suas mãos no volante
Estamos indo para o puteiro
E realmente vamos
nos divertir

Atrás do puteiro existem alguns
Bangalôs [2x]
E isso é para as pessoas
Que gostam de ir bem devagar

Deixe rolar, baby, rolar
Deixe rolar, baby, rolar
Deixe rolar, baby, rolar
Deixe rolar a noite inteira

Faça isso, amor, faça isso

Você tem que rolar, rolar, rolar
Você tem que excitar minha alma, isso aí
Role, role, role, role
Excite minha alma
Você precisa girar, girar, girar
Você precisa excitar minha alma
Gingar, gingar, gingar
Excitar minha alma
Gingar, gingar, gingar
Excitar minha alma
Yeah

Dama apaixonada, dama apaixonada
Desista de seus votos
Salve a nossa cidade, salve a nossa cidade
Agora mesmo

Bem, eu acordei essa manhã e tomei uma cerveja
Bem, eu acordei essa manhã e tomei uma cerveja
O futuro é incerto e o fim está sempre perto

Deixe rolar, baby, rolar
Deixe rolar, baby, rolar
Deixe rolar, baby, rolar
Deixe rolar a noite inteira


sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011



Soneto LVII - Shakespeare


Sendo-te escravo, só posso aguardar
Que teu desejo me indique o momento.
Cada hora minha é um longo esperar,
Até que  eu posa te servir a contento.
Em tudas demoras, com paciência,
 - És soberana dos anseios meus -
Encontro doçura na amarga ausência,
Mesmo que digas, para sempre, adeus.
Não ouso te perguntar, enciumado,
Nem por onde andas, nem o que fazes.
Mas, triste escravo, aguardo-te calado,
Enquanto outros contentas e te aprazes.
Meu amor obedece a teu desjo
E cego busca o mal que nele vejo.


SHAKEPEARE, William. The Slave Sonets. In.: COSTA, Flávio Moreira da (Org.). As 100 melhores histórias eróticas da literatura universal. 5. ed. Rio de Janeiro: Ediouro, 2005. p. 122.


Simbolismo Erótico – Cruz e Souza


LUBRICIDADE

Quisera ser a serpe venenosa
que dá-te medo  dá-te pesadelos
para envolver-me, ó Flor maravilhosa,
nos flavos turbilhões dos teus cabelos.

Quisera ser a serpe veludosa
para, enroscada em múltiplos novelos,
saltar-te aos seios de fluidez cheirosa
e babujá-los e depois mordê-los...

Talvez que o sangue impuro e flamejante
do teu lânguido corpo bacante,
da langue ondulação de águas do Reno

Estranhamente se purificasse...
Pois que um veneno de áspide vorace
deve ser morto com igual veneno...


CRUZ E SOUZA, João da. Poesias completas. In.: COSTA, Flávio Moreira da (Org.). As 100 melhores histórias eróticas da literatura universal. 5. ed. Rio de Janeiro: Ediouro, 2005. p. 378.

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011


Sonhar teu seio, donzela! – Álvares de Azevedo


Malva-maçã

De teus seios tão mimosos
quem gozasse o talismã!
Quem ali deitasse a fronte
cheia de amoroso afã!
E quem nele respirasse
a tua malva-maçã!

Dá-me essa folha cheirosa
que treine no seio teu!
Dá-me a folha... hei de beijá-la
sedentea no lábio meu!
Não vês que o calor do seio
tua malva emurcheceu...

(…)

teu cabelo me inebria,
teu ardente olhar seduz;
a flor dos teus olhos negros
de tua alma raia a luz,
e sinto nos lábios teus
fogo o céu que transluz!

O teu seio que estremece
enlanguece-me de gozo.
Há um quê de tão suave
no colo voluptuoso,
que num trêmulo delíquio
faz-me sonhar venturoso!

(…)

Pelas estrelas da noite,
pelas brisas da manhã,
por teus amores mais puros,
pelo amor de tua irmã,
dá-me essa folha cheirosa
- a tua malva-maçã!


Fonte: AZEVEDO, Álvares de. Lira dos vinte anos. Sonhar teu seio donzela. In.: In.: COSTA, Flávio Moreira da (Org.). As 100 melhores histórias eróticas da literatura universal. 5. ed. Rio de Janeiro: Ediouro, 2005.  

No Avalon – Alanis Morissette

 

Eu sou apenas uma garota branca de uma segura cidadezinha
Como eu possivelmente saberia sobre destruição?
O gramado parece estar mais verde hoje debaixo destes céus suburbanos
O garotinho na próxima porta quer ser o senhor das moscas

É como Abel e Caim e o santo sacrifício
E eu tenho que acreditar que Deus fechou seus olhos
E se não há Avalon e nós temos somente uma única vida
É duro compreender por que deixamos nossos irmãos morrerem

Minha cama é tão segura aqui, mas meus óculos cor-de-rosa, eles estão quebrados
agora que a verdade cai em gotas e eu não posso imaginar
Eu vi que na notícia hoje à noite eles não anunciaram o nome dele
Eu vi o sangue nas mãos dele e eles me disseram para desviar o olhar

Eu te digo que é como Abel e Caim e o santo sacrifício
E eu tenho que acreditar que Deus fechou seus olhos
E se não há Avalon nós temos somente uma única vida
É duro compreender por que deixamos nossos irmãs morrerem

Morrerem
Por que? Por que? Por que?
É uma civilização confusa, querido

Os deixamos morrerem
E assistimos eles morrerem





 

Fonte: http://letras.terra.com.br/alanis-morissette/238912/traducao.html

domingo, 6 de fevereiro de 2011

Laranja - Maria Gadú
Composição: Maria Gadú



Ô menina, parece índia Ianomami seu cabelo preto breu
Simula um toque, que desabroche
Esse teu casto mastigado pelo meu
Se quer tamanho vou despir a alma
E afogar a calma salivando um beijo teu
Siga a seta e diga que sou seu
Venha sem chão me ensina a solidão de ser só dois
Depois te levo pra casa
Que o teu laranja é que me faz ficar bem mais

Venha sem chão me ensina a solidão de ser só dois
Depois te levo pra casa
Que o teu laranja é que me faz ficar bem mais

Se quer tamanho vou te inspirar alma
E afogar a calma salivando um beijo teu
Siga a seta e diga que sou seu
Siga a seta e diga que sou seu
Siga a seta e diga que sou seu


Fonte: http://letras.terra.com.br/maria-gadu/1495936/