sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

Someone like you – Adele

(Alguém como você)


Eu ouvi dizer que você está estabilizado
Que você encontrou uma garota e está casado agora
Eu ouvi dizer que os seus sonhos se realizaram
Acho que ela lhe deu coisas que eu não dei.

Velho amigo, por que você está tão tímido?
Não é do seu feitio se refrear ou se esconder da luz
Eu odeio aparecer do nada sem ser convidada
Mas eu não pude ficar longe, não consegui evitar.

Eu tinha esperança de que você veria meu rosto
E que você se lembraria
De que pra mim não acabou.

Deixe para lá, eu vou achar alguém como você
Não desejo nada além do melhor para vocês também
Não se esqueça de mim, eu imploro
Vou lembrar de você dizer:
"Às vezes o amor dura, mas, às vezes, fere".

Às vezes o amor dura, mas, às vezes, fere, é.

Você saberia como o tempo voa
Ontem foi o momento de nossas vidas
Nós nascemos e fomos criados numa neblina de verão
Unidos pela surpresa dos nossos dias de glória.

Nada se compara, nenhuma preocupação ou cuidado
Arrependimentos e erros, são feitos de memórias
Quem poderia ter adivinhado o gosto amargo
Que isso teria?


terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

Fragmentos de poemas de Emily Dickinson:


"O céu não nos usurpa nada -
Mesmo aparente furtos
São compensados sutilmente
Por desígnios ocultos -"

"Há dois "Eu posso" e um "Eu preciso"
E depois um "Eu devo'.
Tão infinito o compromisso
Que há um "Eu quero"!"

"O silêncio amedronta.
Conforta-nos a Fala -
Mas o silêncio é Infinitude.
Silêncio não tem cara."

"Tão tênues como o amanhã
Que nunca vem
Garantia e convicção
Só nome tem.'


(DICKINSON, Emily. Alguns poemas. São Paulo: Iluminuras, 2009. 319 p.)

Tilixi e Tixiliá - Lenda da fundação da cidade de Palmeira dos Índios (AL)


Diz a lenda que no maciço da Serra da Boa Vista havia muitas palmeiras, sendo que uma delas se destacava das demais. E a história que se conta boca a boca é a seguinte:

À época a região era habitada por índios. Na tribo que habitava o local havia uma índia muito bonita, chamada Tixiliá “Beija-flor”. Ela havia sido pedida em casamento pelo cacique Etafé, “musculoso” mas ela amava mesmo o seu primo Tilixi “bonito”, jovem formoso, com quem gostava de passear, para ouvi-lo contar histórias bonitas do seu povo.

Durante uma festa na aldeia, quando segurava uma caneca com alua um tipo de bebida fermentada, pretendendo oferecê-la a Tilixi, foi por ele beijada, o que, pela tradição da tribo, se constituía uma profanação, pois a índia, virgem, era a eleita do cacique.

Tilixi, por seu ato impensado, sofreu um castigo cruel, foi condenado a morte por inanição.

Durante três dias padeceu horrivelmente, exposto ao sol, sem comer nem beber. Mesmo morrendo, Tilixi pronunciava o nome da amada. Ela, por sua vez, burilou a guarda da tribo e chegou até o local onde seu amor estava, munida de uma pequenina cruz, presenteada por Frei Domingos de São José.

Na oportunidade, ela plantou ao lado do bem amado a cruzinha, e, numa dramática prece, rogou ao Deus branco que dela brotasse depressa uma palmeira frondosa, à sombra da qual Tilixi pudesse amenizar seu sofrimento. No momento que fazia sua prece, a índia foi atingida no peito moreno por uma certeira flecha, disparada pelo cacique Etafé, que a espreitava por trás de uma folhagem, possesso de ciúmes. Mortalmente ferida, ela tombou sobre o corpo do amado e os dois, abraçados, exalaram, unidos, o último suspiro.

Dias depois, o Frei Domingos de São José foi ao local onde os dois morreram e verificou que no local da cruz nasceu uma frondosa Palmeira que se sobressaía das demais, simbolizando a união dos dois índios, através de um intenso amor.

A palmeira do milagre emprestou o nome topônimo da cidade que, no futuro, se desenvolveu em torno dela – Palmeira dos Índios.

Por causa da lenda, a cidade também é chamada de “Cidade do Amor”, visto estar edificada em lugar sagrado, onde um heróico amor foi vivido por dois jovens.

Palmeira dos Índios, alimentada então pela seiva do milagre, recebeu merecidamente o cognome de Princesa do Sertão.


Fonte: http://erisvaldovieira.blogspot.com/2009/09/tilixi-e-tixilia.html

domingo, 12 de fevereiro de 2012

Gloomy Sunday - Rezsõ Seress

(Domingo Sombrio)



O domingo é sombrio/obscuro
As minhas horas são despertas (sem sono)
Queridas são as ínumeras sombras
Com as quais convivo
Pequenas flores brancas
Nunca te acordarão
Nem onde o coche negro
Da dor te levou
Os anjos não pensam
Alguma vez em te devolver
Ficariam eles zangados
Se pensasse juntar-me a ti?


Domingo sombrio

O domingo é sombrio
Com sombras, eu dispendi de tudo
O meu coração e eu
Decidimos acabar com tudo
Em breve haverão flores
E orações que dizem saber
Não as deixem chorar
Deixem saber
Que estou feliz por partir
A morte não é um sonho
Na morte eu te acarinho
Com o último suspiro da minha alma
Eu te abençoarei

Domingo sombrio



Sonhando
Eu estava apenas sonhando
Acordo e encontro-te a dormir
No fundo do meu coração
Querida, eu espero
Que o meu sonho nunca te assombre
O meu coração revela
O quanto eu te quis
Domingo Sombrio





sábado, 11 de fevereiro de 2012


Carta de Anaïs Nin:



"Prezado coleccionador:


Detestamo-lo. O sexo perde todo o seu poder, toda a sua magia, quando se torna explícito, abusivo, quando se torna mecanicamente obcecante. Passa a ser enfadonho.

Nunca conheci pessoa que melhor provasse o erro que é não se lhe juntar a emoção, a fome, o desejo, a luxúria, os caprichos, as manias, os laços pessoais, relações mais profundas, que lhe mudam a cor, o perfume, os ritmos, a intensidade.
Nem o senhor sabe o quanto perde com esse seu exame microscópico da actividade sexual e a exclusão dos outros aspectos, que são o combustível que a faz atear. Intelectual, imaginativo, romântico, emocional. Eis o que dá ao sexo as suas surpreendentes texturas, as mudanças subtis, os elementos afrodisíacos. O senhor restringe o seu mundo de sensações. Disseca-o, definha-o, tira-lhe o sangue.
Se o senhor alimentasse a sua vida sexual com todas as aventuras e excitações que o amor instila a sensualidade, seria o homem mais poderoso do mundo. A fonte da potência sexual é a curiosidade, é a paixão. O que o senhor vê é sua débil chama a morrer de asfixia. O sexo não pode medrar na monotonia. Sem invenções, humores, sentimentos, não há surpresa na cama. O sexo deve ter à mistura lágrimas, riso, palavras, promessas, cenas, ciúme, inveja, todos os condimentos do medo, viagens ao estrangeiro, novas caras, romances, historias, sonhos, fantasias, musica, dança, ópio, vinho. O que o senhor perde com esse periscópio na ponta do sexo, quando podia gozar de um harém de maravilhas várias e jamais repetidas! Não há dois cabelos iguais; mas o senhor não quer que desperdicemos palavras a descrever uns cabelos. Não há dois cheiros iguais; porém, se nós nos detemos com isso, o senhor exclama: “Suprimam a poesia.” Não há duas peles de igual textura; nunca é a mesma luz, a mesma temperatura, as mesmas sombras, nunca são os mesmos gestos; porque um amante, quando animado do verdadeiro amor, é capaz de vencer séculos e séculos de ciência amorosa. Quantas mudanças de tempo, quantas variações de maturidade e de inocência, de arte e de perversidade…
Discutimos até à exaustão para saber como seria o senhor. Se fechou os sentidos à seda, à luz, à cor, ao cheiro, ao carácter, ao temperamento, deve estar nesta altura totalmente empedernido. Há tantos sentidos menores que se lançam como afluentes no rio do sexo!
Só o bater em uníssono do sexo e do coração pode provocar o êxtase."
(Anaïs Nin, 1941)

quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012


“[...] Soube o que em verdade queriam dizer aquelas palavras do rei Salomão, As curvas dos teus quadris são como jóias, o teu umbigo é uma taça arredondada, cheia de vinho perfumado, o teu ventre é um monte de trigo cercado de lírios, os teus dois seios são como dois filhinhos gêmeos de uma gazela, mas soube-o ainda melhor, e definitivamente, quando Maria se deitou ao lado dele, e, tomando-lhe as mãos, puxando-as para si, as fez passar, lentamente, por todo o seu corpo, os cabelos e o rosto, o pescoço, os ombros, os seios, que docemente comprimiu, o ventre, o umbigo, o púbis, onde se demorou, a enredar e a desenredar os dedos, o redondo das coxas macias, e , enquanto isto fazia, ia dizendo em voz baixa, quase num sussurro, Aprende, aprende o meu corpo. Jesus olhava as suas próprias mãos, que Maria segurava, e desejava tê-las soltas para que pudessem ir buscar, livres, cada uma daquelas partes, mas ela continuava, uma vez mais, outra ainda, e dizia, Aprende o meu corpo, aprende o meu corpo. Jesus respirava precipitadamente, mas houve um momento em que pareceu sufocar, e isso foi quando as mãos dela, a esquerda colocada sobre a testa, a direita sobre os tornozelos, principiaram uma lenta carícia, na direcção uma da outra, ambas atraídas ao mesmo ponto central, onde, quando chegadas, não se detiveram mais do que um instante, para regressarem com a mesma lentidão ao ponto de partida, donde recomeçaram o movimento. [...] Agora Maria de Magdala ensinara-lhe, Aprende o meu corpo, e repetia, mas doutra maneira, mudando-lhe uma palavra, Aprende o teu corpo, e ele aí o tinha, o seu corpo, tenso, duro, erecto, e sobre ele estava, nua e magnífica, Maria de Magdala, que dizia, Calma, não te preocupes, não te movas, deixa que eu trate de ti, então sentiu que uma parte do seu corpo, essa, se sumira no corpo dela, que um anel de fogo o rodeava, indo e vindo, que um estremecimento o sacudia por dentro, como um peixe agitando-se, e que de súbito se escapava gritando, impossível, não pode ser, os peixes não gritam, ele, sim, era ele quem gritava, ao mesmo tempo que Maria, gemendo, deixava descair o seu corpo sobre o dele, indo beber-lhe da boca o grito, num sôfrego e ansioso beijo que desencadeou no corpo de Jesus um segundo e interminável frêmito.”



(O evangelho segundo Jesus Cristo – José Saramago)