“Outrora,
a natureza humana não era o que hoje é, mas bem diferente. Havia, a princípio,
três espécies de homens e não duas, como atualmente: macho e fêmea. O terceiro
gênero era formado pelos dois primeiros. Extinta a espécie, só o nome lhe
sobreviveu. Chamavam-se andróginos, porque pelo aspecto e pelo nome lembravam o
macho e a fêmea. […]
A
causa da diferenciação destas três espécies era que o macho fora engendrado
pelo sol, a fêmea pela terra, e o sexo composto, pela lua, filha ao mesmo tempo
da terra e do sol. […]
[…]
Zeus partiu-os em dois do mesmo modo que
com um fio de cabelo de dividem os ovos para temperá-los com sal. Depois de os
ter assim cortado, ordenou Apolo que lhes curasse as feridas e lhes virasse o t
e a metade do corpo para o lado do corte, a fim de que, tornassem-se menos
atrevidos. [...]
Consumada
esta separação, cada parte desejou unir-se à metade de que desligara. Quando
depois se encontravam, atiravam-se nos braços uma da outra, enlaçavam-se tão
fortemente que, pelo desejo de se fundirem, se deixavam morrer de fome,
inertes, sem desejo de nada empreender cada uma em separado. Quando morria uma
das metades, a que ficava procurava estreitar-se a outra metade abandonada, quer se tratasse
do que hoje chamamos mulher, quer de homem. E assim extinguiu-se a raça.”
(PLATÃO. O banquete. Bauru: Edipro de Bolso, 2009. 96 p.)