quarta-feira, 24 de outubro de 2012


“Outrora, a natureza humana não era o que hoje é, mas bem diferente. Havia, a princípio, três espécies de homens e não duas, como atualmente: macho e fêmea. O terceiro gênero era formado pelos dois primeiros. Extinta a espécie, só o nome lhe sobreviveu. Chamavam-se andróginos, porque pelo aspecto e pelo nome lembravam o macho e a fêmea. […]
A causa da diferenciação destas três espécies era que o macho fora engendrado pelo sol, a fêmea pela terra, e o sexo composto, pela lua, filha ao mesmo tempo da terra e do sol. […]
[…] Zeus partiu-os em dois do  mesmo modo que com um fio de cabelo de dividem os ovos para temperá-los com sal. Depois de os ter assim cortado, ordenou Apolo que lhes curasse as feridas e lhes virasse o t e a metade do corpo para o lado do corte, a fim de que, tornassem-se menos atrevidos. [...]

Consumada esta separação, cada parte desejou unir-se à metade de que desligara. Quando depois se encontravam, atiravam-se nos braços uma da outra, enlaçavam-se tão fortemente que, pelo desejo de se fundirem, se deixavam morrer de fome, inertes, sem desejo de nada empreender cada uma em separado. Quando morria uma das metades, a que ficava procurava estreitar-se  a outra metade abandonada, quer se tratasse do que hoje chamamos mulher, quer de homem. E assim extinguiu-se a raça.”



(PLATÃO. O banquete. Bauru: Edipro de Bolso, 2009. 96 p.)

Nenhum comentário:

Postar um comentário