quinta-feira, 24 de maio de 2012

Berçário


Um poema deve-se tratar como um filho:
Concebe-o na união das ideias
Espera pacientemente que forme-se  o feto;
Sente-se os sinais e os chutes;
Descobre-se o sexo;
Pari normalmente
Sente-se prazer na dor;
Embala-o no berço do papel;
Com caneta, lápis, tinta
Pinta-lhe um nome;
Investe-se nele com orgulho
Vendo-o crescer e ele conhece
Mil amantes, porém, casa-se com poucos.
Atiram-no à perolas e porcos
e ele sobrevive.
Não morre nunca teu filho!


(LIMA, Edson Silva de. Mentalmorfose. Rio de Janeiro: Multifoco, 2012.)
Procura da Poesia*


Penetra surdamente no reino das palavras.
Lá estão os poemas que esperam ser escritos.
Estão paralisados, mas não há desespero,
há calma e frescura na superfície intata.
Ei-los sós e mudos, em estado de dicionário.
Convive com teus poemas, antes de escrevê-los.
Tem paciência se obscuros. Calma, se te provocam.
Espera que cada um se realize e consume
com seu poder de palavra
e seu poder de silêncio.
(...)

*Não havia indicação de autoria.


quinta-feira, 17 de maio de 2012

Preciso Dizer Que Eu Te Amo - Cazuza


Quando a gente conversa
Contando casos, besteiras
Tanta coisa em comum
Deixando escapar segredos
E eu não sei que hora dizer
Me dá um medo, que medo

É que eu preciso dizer que eu te amo
Te ganhar ou perder sem engano
É, eu preciso dizer que eu te amo tanto

E até o tempo passa arrastado
Só pra eu ficar do teu lado
Você me chora dores de outro amor
Se abre e acaba comigo
E nessa novela eu não quero
Ser teu amigo

É que eu preciso dizer que eu te amo
Te ganhar ou perder sem engano
É, eu preciso dizer que eu te amo tanto

Eu já nem sei se eu tô misturando
Eu perco o sono
Lembrando em cada riso teu
Qualquer bandeira
Fechando e abrindo a geladeira
A noite inteira

Eu preciso dizer que eu te amo
Te ganhar ou perder sem engano
Eu preciso dizer que eu te amo tanto




Minha Namorada - Secos & Molhados


Minha namorada
Da primeira vez
Onde está deitada
E que forma tem
O teu rosto agora

Minha namorada
Trémula lembrança
Da primeira vez
Porque não respondes
Onde estás deitada

Minha namorada
De corpo franzino
Leve como o ar
Onde estás deitada
Para eu me deitar

Minha namorada
Da primeira vez
Porque não respondes
(só mais uma vez)
Onde estás deitada


quarta-feira, 16 de maio de 2012


Lise - Emilie Simon


Lise toma ar
Quem desestabiliza
As malas de Lise
Estão cheias de ar

Que queres que eu lhe diga
Ela faz tudo por capricho
Ela funciona ao contrário
Sob seus ares de marquesa

Os versos de Lise
Se lêem em volta de um copo

A ela não falta ar
Será necessário que leias
Um ou dois de seus versos
Leves como o vento

Lise, ela nunca é conquistada
Teu coração, ela o destrói
Tua alma, ela faz se perder
Escrevendo seus versos

Os versos de Lise
Se lêem ao redor de um copo

Lise, uma garota singular
Ela te vira do avesso
Ela nunca é tão submissa
Ela te faz mudar de ares

Lise, ela disfarça seus versos
Para não serem entendidos
Para não serem pegos
Por uma terra à terra

Os versos de Lise
Se lêem ao redor de um copo



Cantada (Depois de ter você) - Adriana Calcanhotto


Depois de ter você,
pra quê querer saber que horas são?
Se é noite ou faz calor,
se estamos no verão,
se o sol virá ou não,
ou pra quê é que serve uma canção como essa?

Depois de ter você, poetas para quê?
Os deuses, as dúvidas,
pra quê amendoeiras pelas ruas?
Para quê servem as ruas?
Depois de ter você...



quinta-feira, 10 de maio de 2012


Psiu! Ela está gozando


Seu corpo se crispa
seus olhos se nublam
perde o comando:
ela está gozando.

Seus pés se retorcem
seu ventre impa
tem o roso pando:
ela está gozando.

Sua carne arde
sua boca queima
sua voz sem mando:
ela está gozando.

Seus seios suam
suas mãos explodem
o ser em desmando:
ela está gozando.

Súbito, a paz
ilumina o mundo:
ela se refaz
do gozo profundo.