sexta-feira, 7 de janeiro de 2011


Poema 25 
Arriete Vilela


O tempo é obscuro inimigo que nos corrói o coração.
Baudelaire


O tempo des/const/rói a vida.
Por isso já não me decifro
em palavras, atos e omissões.
Nem me interessa se em achas obscura
ou absurda.

Quero estar dentro do tempo que me destrói
e me constrói e me rói.
Mas, sobretudo, me reconstrói.
Todo dia, intensa e repetidamente.

Quero herdar as palavras do tempo
para refazer-me em monossílabos:
céu, dor, paz, sim, mar, flor,
e abrir-me em leque: arte, amor, chuva,
mulher, gozo, paixão
saudade, desejo, poesia,
travessia.

O tempo nos tem des/const/ruído.

Por isso não deves esperar por mim.
Só o tempo roedor de vidas e de coração
importa: um tempo – longo ou breve -
de fazer durar apenas um adeus.


Fonte: VILELA, Arriete. Ávidas paixões, Áridos amores. Maceió: Grafmarques, 2007.

Nenhum comentário:

Postar um comentário