Arriete Vilela
O tempo é obscuro inimigo que nos corrói o coração.
Baudelaire
O tempo des/const/rói a vida.
Por isso já não me decifro
em palavras, atos e omissões.
Nem me interessa se em achas obscura
ou absurda.
Quero estar dentro do tempo que me destrói
e me constrói e me rói.
Mas, sobretudo, me reconstrói.
Todo dia, intensa e repetidamente.
Quero herdar as palavras do tempo
para refazer-me em monossílabos:
céu, dor, paz, sim, mar, flor,
e abrir-me em leque: arte, amor, chuva,
mulher, gozo, paixão
saudade, desejo, poesia,
travessia.
O tempo nos tem des/const/ruído.
Por isso não deves esperar por mim.
Só o tempo roedor de vidas e de coração
importa: um tempo – longo ou breve -
de fazer durar apenas um adeus.
Fonte: VILELA, Arriete. Ávidas paixões, Áridos amores. Maceió: Grafmarques, 2007.
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