segunda-feira, 3 de janeiro de 2011


Mas conheço também outra vida ainda. Conheço e quero-a e devoro-a truculentamente. É uma vida de violência mágica. É misteriosa e enfeitiçante. Nela as cobras se enlaçam enquanto as estrelas tremem. Gotas de água. Nesse escuro as flores se entrelaçam em jardim feérico e úmido. E eu sou a feiticeira desse bacanal muda. Sinto-me derrotada pela minha própria corruptabilidade. E vejo que sou intrínsecamente má. É apenas por pura bondade que sou boa. Derrotada por mim mesma. Que me levo dos caminhos da salamandra, gênio que governa o fogo e nele vive. E dou-me como oferenda aos mortos. Faço encantações no solstício, espectro de dragão exorcizado.”

(Água Viva: Clarice Lispector)

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