quarta-feira, 7 de março de 2012

Carta de Werther à Lotte:


“Está resolvido, Lotte, quero morrer e escrevo a você sem exaltação romântica, impassível, na manhã do dia em que a verei pela última vez. Quando ler esta, minha adorada, a campa fria já terá cerrado os restos enrijecidos do irrequieto, do infeliz, que não conheceu nos derradeiros momentos de sua vida nada mais doce do que conversar com você. Tive uma noite horrível e... sim, uma noite benéfica. Foi ela que fortaleceu e determinou a minha resolução: quero morrer! Após ter me afastado de você ontem á noite, com a alma em convulsão, com o coração apertado, consumindo ao seu lado a minha existência sem esperanças gelado de horror... mal pude chegar ao meu quarto, lancei-me de joelhos, completamente fora de mim e, oh, Deus! Você me concedeu, pela última vez, o alívio das lágrimas amargas! Mil possibilidades, mil perspectivas debatiam-se em minha alma até que, por fim, lá estava ele, firme, inteiro, o último, o único pensamento: quero morrer! – Deitei-me ao despertar esta manhã, mais tranqüilo, ele continuava em meu coração com a mesma força: quero morrer! – Não é desespero, é a certeza de minha resolução e de que me sacrifico por você. Sim, Lotte! Por que ocultá-lo? Um de nós três tem de ir embora, e prefiro que seja eu! Ó, minha adorada! Este coração despedaçado já foi muitas vezes invadido pela fúria de... matar o seu marido... a você... e a mim... assim seja! – Quando subir a montanha numa linda tarde de verão lembre-se de mim e de quantas vezes percorri esse vale; e depois olhe para o cemitério na direção do meu túmulo e veja como o vento embala a relva alva, no brilho dos últimos raios do sol poente. – Estava tranqüilo quando comecei a escrever e agora, agora choro como uma criança, pois isso tudo está tão vivo, tão próximo.” (p. 127-128)


(GOETHE. Os sofrimentos do jovem Werther. São Paulo: Estação Liberdade, 1999. 180 p.)

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