quarta-feira, 6 de abril de 2011

Para uma Feira do Livro - João Cabral de Melo Neto

A Ângel Crespo

Folheada, a folha de um livro retoma
o lânguido e vegetal da folha folha,
e um livro se foleia ou se desfolha
como sob o vento a árvore que o doa;
folheada, a folha de um livro repete
fricativas e labiais de ventos antigos,
e nada finge vento em folha de árvore
melhor do que vento em folha de livro.
Todavia a folha, na árvore do livro,
mais do que imita o vento, profere-o:
a palavra nela urge a voz, que é vento,
ou ventania varrendo o podre a zero.

Silencioso: quer fechado ou aberto,
inclusive o que grita dentro; anônimo:
só expõe o lobo, posto na estante,
que apaga em pardo todos os lombos;
modesto: só se abre se alguém o abre,
e tanto o oposto do quadro na parede,
aberto a vida toda, quanto da música,
viva apenas enauqnto voam suas redes.
Mas apesar disso e apesar de paciente
(deixa-se ler onde queiram), severo:
exige que lhe esraiam, o interroguem;
e jamais exala: fechado, mesmo aberto.


Fonte: FONSECA, Edson Nery da. Introdução à Biblioteconomia. 2. ed. Biquet de Lemos/Livros, 2007.

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